Hernane
vive aos 27 anos uma temporada de sonhos. Decisivo na reação do
Flamengo, o centroavante aparece como um dos goleadores em todos os
torneios que disputou e ainda lidera a briga pelo posto de Artilheiro do
Ano, com 33 marcados. Mas o sucesso obtido no Flamengo poderia ter
acontecido no adversário desta quarta-feira, às 21h50m, em Itu. Antes de
virar o Brocador no Rubro-Negro, o atacante passou quatro temporadas
praticamente esquecido no São Paulo.
Hernane chegou ao Tricolor no fim de 2007 depois de se destacar jogando
a Quarta Divisão do Campeonato Paulista pelo Atibaia. Com 21 anos e 13
gols marcados no torneio, o grandalhão chamou a atenção do clube do
Morumbi como uma promessa para o futuro, mas esbarrou na falta de
oportunidades e só conseguiu espaço quando foi embora.
Mesmo com a idade acima do permitido, o atacante passou um longo
período treinando nos juniores. Como não poderia disputar torneios da
base, ele integrava a equipe chamada pelos dirigentes de “Super 20”, um
combinado de atletas com a idade estourada e que não seria aproveitado
pelo técnico Muricy Ramalho.
O time disputava partidas amistosas e fazia excursões pelo exterior. Só
quem brilhasse teria uma chance nos profissionais, casos de Hernanes,
do Lazio, e Jean, do Fluminense. Os demais permaneciam jogando partidas
não-oficiais até serem emprestados ou negociados.
– Eu até operei um neuroma que ele tinha no pé. Não sei o que
aconteceu. Alguns jogadores demoram mais para estourar. É preciso ter
paciência. Por isso, sou francamente a favor de um time B. Cabe ao clube
ter visão de futuro para aproveitá-los – afirmou Marco Aurélio Cunha,
ex-superintendente de futebol do São Paulo na ocasião.
O máximo que Hernane conseguiu foi ser relacionado para um jogo, no dia
21 de fevereiro de 2008. O sonho de estrear com a camisa tricolor,
porém, não durou mais do que uma noite. Ele dormiu na concentração com o
elenco, mas acabou cortado por Muricy momentos antes da partida. Horas
depois, o São Paulo venceu o Paulista por 2 a 1, no Morumbi, pelo
estadual.
A concorrência também era pesada. Muricy sempre deu preferência a
jogadores com mais experiência, principalmente durante a fase em que o
São Paulo não economizava para buscar o tricampeonato nacional. O
técnico tinha como opções Borges, Aloísio, Dagoberto, Éder Luis e André
Lima.
Sem espaço no grupo, Hernane acabou retornando às categorias de base e
iniciou uma verdadeira peregrinação por clubes menores. Mesmo assim,
seguia vinculado ao São Paulo e com a esperança de retornar para ter
mais chances de atuar. Nada disso aconteceu.
Em 2008, defendeu o Rio Preto-SP. Um ano depois, o Toledo-PR e mais
tarde o Paulista. Nem mesmo a saída de Muricy modificou o cenário. Ele
também seguiu fora dos planos nas passagens de Ricardo Gomes, Paulo
César Carpegiani e Adilson Batista, além de Sérgio Baresi e Milton Cruz.
O atacante deixou definitivamente o São Paulo em 2011 para atuar pelo
Paraná na Série B do Campeonato Brasileiro. Em seguida, jogou pelo Mogi
Mirim, onde fez 16 gols no Paulistão de 2012 e partiu para assinar com o
Flamengo.
Curiosamente, o São Paulo passou toda a temporada 2013 com problemas
para fixar um centroavante. Luis Fabiano não consegue repetir as
exibições de outros anos e caiu em desgraça. Aloísio se firmou apenas
nos últimos dois meses, mas está longe de ser um goleador. Eles fizeram
21 gols cada no ano. Número distante dos 33 de Hernane. O Brocador,
antes ignorado, hoje faz falta ao Tricolor.
Por Carlos Augusto Ferrari -
São Paulo.