Essa é uma história de dedicação, luta, derrotas, vitórias e sonhos. E
não poderia ter outro fim. A primeira medalha do handebol brasileiro em
mundiais não é de bronze, nem de prata. É de ouro. Diante de uma Arena
Belgrado fervendo e barulhenta, contra 20 mil torcedores e mais sete
rivais em quadra, as meninas do Brasil não se intimidaram. Vibraram
quando tinham que vibrar. Fizeram faltas quando foi necessário.
Reclamaram da arbitragem. E jogaram. Jogaram muito. Frias, Alexandra e
cia. calaram a Sérvia, venceram por 22 a 20 e entraram para a história
da modalidade no país, conquistando o título mundial de forma invicta.
Mais cedo, a Dinamarca derrotou a Polônia e garantiu o bronze.
A
vitória diante das sérvias foi a segunda no Mundial, a nona em nove
jogos na competição, para não deixar dúvidas sobre a conquista invicta.
Para completar, Babi ainda entrou para a seleção do Mundial como a
melhor goleira, e Duda foi eleita a MVP (sigla em inglês para jogadora mais valiosa) da competição. Alexandra Nascimento, atual melhor do mundo, foi a artilheira da decisão com seis gols anotados.
O
ouro no peito coroa um projeto iniciado há quatro anos pela
Confederação Brasileira de Handebol, com a contratação do técnico
dinamarquês Morten Soubak, comandante da vitoriosa campanha brasileira
nas quadras sérvias. E, com Rio 2016 na mira, credencia o Brasil ao
posto de candidato real a uma inédita medalha olímpica.
MARÉ VERMELHA: BRASIL SUPERA PRESSÃO DA TORCIDA
Sem
se importar com a pressão da torcida sérvia, o Brasil começou a decisão
marcando bem. Babi, com três minutos, já tinha feito duas defesas
salvadoras, e Fernanda, colocado a seleção na frente por 2 a 1. Ana
Paula fez mais um. Dara, aos cinco, levou suspensão de dois minutos, e a
Sérvia diminuiu com Damnjanovic. Alê, em contra-ataque tramado com
Deonise, fez 5 a 3. Em quatro minutos, as anfitriãs viraram com Cvijic
(duas vezes) e Damnjanovic: 6 a 5. Pressionada, a arbitragem irritava as
brasileiras.
Aos 16, a Sérvia abriu 8 a 6, mas Ana Paula logo diminuiu. Civjic,
impossível no ataque, levou dois minutos por falta em Dani Piedade. Após
quatro minutos sem gols dos dois lados, Alê empatou: 8 a 8. Sem sair da
margem de um gol, a seleção mantinha o jogo sob controle, mesmo
perdendo por 10 a 9, até Alê, com um golaço por cobertura, empatar.
Déborah Hannah, dois minutos depois, colocou o Brasil de novo na frente:
11 a 10. Fria, Alê abriu três gols de vantagem aos 29, fechando a
primeira etapa em 13 a 11, com as sérvias ficando seis minutos sem gols.
O Brasil voltou para a segunda etapa com o mesmo ritmo. Com cinco
minutos, vencia por 16 a 11, abrindo cinco gols com Duda (duas vezes) e
Deonise. Aos sete, a Sérvia fez dois gols com Lekic e Ognjenovic: 16 a
13. O ginásio foi ao delírio quando Tomasevic pegou dois sete metros
seguidos, mantendo o placar intacto. Aos 12, a Sérvia voltou a
apertar o marcador. Com Zivkovic e Damnjanovic, trouxe a diferença para
um gol apenas. Com duas suspensões de dois minutos, as
anfitriãs levaram mais um gol de Alê. Na metade da
etapa, a seleção vencia por 18 a 16.
Sem funcionar na segunda etapa, Babi deu a vaga para Mayssa no gol.
Com a torcida jogando junto, a Sérvia dificultava cada ataque do Brasil,
marcando muito. Ana Paula, aos 19, colocou de novo a seleção no jogo:
19 a 17. Aos 22, na pressão, a Sérvia conseguiu diminuir para um gol com
Krpez. Quando a Sérvia ia empatar, Mayssa, incrível, parou Damnjanovic
no contra-ataque, cara a cara, com o pé esquerdo. Nisavic, aos 20,
empatou o jogo em 19 a 19. Dani Piedade, no pivô, colocou o Brasil mais
uma vez na frente. Lekic empatou de novo, em 20 a 20. Déborah, um
monstro quando entrou, fez 21 a 20. Aos 29, Ana paula fez um golaço,
Mayssa salvou lá atrás e o Brasil abriu dois gols: 22 a 20.
A
50 segundos do título mundial, a seleção brasileira teve sabedoria e
calma para administrar o jogo e manter a posse de bola. Quando o placar
mostrou o fim do jogo, choro e sorrisos tomaram conta das jogadoras e
dos membros da comissão técnica do Brasil. Um título inédito e
histórico. Até então, a melhor campanha do país em um mundial tinha sido
o quinto lugar em São Paulo 2011.
ESCALAÇÕES
Brasil: Babi; Dara, Duda, Deonise, Alê, Fernanda e Ana Paula. Entraram:
Dani Piedade, Mayara, Déborah Hannah, Samira e Dani Piedade.
Sérvia: Tomasevic; Milosevic, Damnjanovic, Popovic, Eric, Ognjenovic e Cvijic. Entraram: Lekic, Zivkovic, Krpez, Filipovic, Rajovic e Risovic.
Sérvia: Tomasevic; Milosevic, Damnjanovic, Popovic, Eric, Ognjenovic e Cvijic. Entraram: Lekic, Zivkovic, Krpez, Filipovic, Rajovic e Risovic.
Por Thierry Gozzer - Direto de Belgrado, Sérvia.