Diante do Atlético-PR, o Flamengo foi da profunda crise à redenção, em
um ciclo que se fecha com capricho, com o título da Copa do Brasil. A
vitória por 2 a 0 sobre o Atlético-PR nesta quarta-feira, no Maracanã, é
o último capítulo de uma história que não parecia nada boa para o time
carioca em setembro, quando perdeu para este mesmo time, neste mesmo
estádio, e ficou também sem o técnico Mano Menezes. Em uma virada
completa, a torcida que lotou o estádio (57.991 pagantes e 68.857
presentes, com renda de R$ 9.733.785) comandou a festa para comemorar a
terceira conquista do clube na competição (1990 e 2006), que vale vaga
na Taça Libertadores do próximo ano, e a primeira do novo Maracanã.
Com o 1 a 1 na última quarta-feira, em Curitiba, o Rubro-Negro carioca
jogava por um empate por 0 a 0 ou por qualquer vitória. E a vitória
chegou nos minutos finais, primeiro com Elias e depois com Hernane,
artilheiro da Copa do Brasil com oito gols - e do novo Maracanã, com 17.
Foi sofrido, brigado, o que só aumentou o sabor da comemoração da
torcida. E os jogadores foram junto, correndo em direção às
arquibancadas em total comunhão. De lá, vieram os gritos de "fica,
Elias", pois o volante tem o contrato encerrado no fim do ano.
- Não tem palavras, não consigo nem falar direito. Nosso time sofreu
muito neste ano e batalhou para caramba para conquistar um título para
essa torcida. Foi um ano inteiro de críticas, mas a gente nunca se
abateu. A gente se fechou de tal jeito que ia ser duro perder aqui hoje.
Eu já falei que se depender de mim eu vou ficar, mas é muita coisa
envolvida. Não é só o Sporting, tem empresários também. Nem queria falar
sobre isso antes dos jogos, focar só em vencer, mas agora, praticamente
de férias, vamos pensar nisso com Walim, meu pai e o Sporting - disse o
volante.
Hernane ganhou um troféu por ser o artilheiro da competição, mas tinha
mais outros motivos para comemorar. O ano foi de conquista de espaço
para ele, também goleador do time no Brasileiro (com 14), e na
temporada, com 34 gols. O atacante valorizou a força da torcida - que,
antes da partida, exibiu um mosaico com a frase "conte comigo, Mengão",
trecho de uma música frequentemente cantada na arquibancada.
- Com 60 mil (torcedores), não poderia ser outro resultado a não ser o
título. Mas para todos que estão aqui, queria dizer que a união faz a
força, e a torcida empurrou o time. Não estou nem acreditando. Voltei do
intervalo e falei que o gol do título eu faria, e Papai do Céu me
abençoou. Agora é comemorar.
A conquista do Flamengo tem a cara de Jayme de Almeida, que ganhou a
missão de conduzir um time destroçado pelo pedido de demissão de Mano
Menezes após a derrota para este mesmo Atlético-PR, só que pelo
Brasileiro, por 4 a 2. Dali a poucos dias aconteceria a primeira partida
das quartas de final contra o Botafogo. Eliminar o rival, um mês
depois, com uma sonora goleada por 4 a 0, deu liga ao elenco na
competição, já credenciado por ter deixado pelo caminho o campeão
brasileiro Cruzeiro. O Rubro-Negro passou com certa facilidade pelo
Goiás na semifinal, até chegar diante do Furacão, para fechar o ciclo,
do quase apocalipse à redenção com a taça. No fim, o técnico foi cercado
pelo jogadores, abraçado e consagrado como comandante do título. A
torcida, no entanto, não esqueceu a atitude do antigo treinador e gritou
palavras de ofensa a Mano após o apito final.
- Se estamos aqui comemorando, temos que agradecer ao Atlético-PR,
porque, se não perdêssemos aquele jogo, não teríamos dado a virada.
Agora estamos aqui comemorando esse título - disse o goleiro Felipe.
Fla vence a batalha no meio-campo
O primeiro tempo começou nervoso, como é bem comum em uma decisão. A
bola queimava nos pés e, com isso, as jogadas combinadas eram raras. O
Flamengo, dono de uma pequena vantagem e atuando em casa, sentia-se mais
confortável. A arma do Furacão, como aconteceu na partida de Curitiba,
era a velocidade de Marcelo. No entanto, sem Everton, suspenso, o
atacante virou presa mais fácil para a marcação. Vanger Mancini optou
por Felipe para o lugar de Everton, e o time paranaense, além de não
ganhar poder de criação, sofreu com um buraco na frente da sua área. Um
espaço, que, aos poucos, o time de Jayme de Almeida começou a
aproveitar.
Entra em cena Luiz Antonio, que acabou eleito o melhor jogador da
partida. O primeiro chute logo ali no início do jogo já mostrava que
outra vez ele atuaria mais avançado, e Elias, mais contido. A medida,
assim como já havia acontecido em Curitiba, confundiu a marcação do
Furacão. Aos 11, em contra-ataque, o volante entrou sozinho pelo meio da
área, mas Carlos Eduardo fez a opção errada pela esquerda e estragou
uma jogada que parecia gol certo. A torcida, que apoiou o camisa 20 e
gritou seu nome antes do apito inicial, contrariando um hábito frequente
de vaias, foi ao desespero.
Embora Hernane insistisse em sair da área, trazendo os zagueiros para
perto dos armadores, Luiz Antonio conseguiu quatro finalizações das sete
do Flamengo na primeira etapa. Na mais perigosa delas, em cobrança de
falta, acertou a junção da trave com o travessão. O Atlético-PR pouco
ameaçava, só chutou uma vez ao gol de Felipe. A torcida empurrava. O
Rubro-Negro controlava as ações.
Elias e Hernane decidem
Os times voltaram do intervalo sem alterações, e o panorama da partida
também seguiu semelhante ao da primeira etapa nos primeiros minutos. Em
uma escapada rápida, Hernane sairia na cara do gol, mas o impedimento
foi incorretamente marcado. Insatisfeito, Mancini resolveu dar uma
sacudida no time. Sacou Felipe e lançou Delatorre. O Furacão adiantou as
suas peças, passou a ocupar mais o campo adversário, e Jayme de Almeida
contra-atacou. Para reforçar o sistema de marcação, colocou Diego Silva
no lugar de Carlos Eduardo, que dessa vez saiu aplaudido e com o nome
gritado.
Os esquemas de jogo mudaram, o tempo passou, mas Luiz Antonio seguiu
sendo o jogador mais efetivo do meio-campo do Flamengo. O volante
colocou a bola na cabeça de Hernane, que cabeceou mal, para fora. Com
maior presença do rival no ataque, o rubro-negro carioca se desarticulou
e começou a fazer faltas próximas de sua área, o que criou boas chances
para os paranaenses. A torcida, que apoiava sem parar, ficou
apreensiva. O Atlético-PR, com a necessidade de um gol, ganhou confiança
e esboçou uma pressão, embora não tivesse quem carregasse com qualidade
a bola até os atacantes. Paulo Baier, aparentemente cansado, não estava
bem.
Paulinho quase marcou em contra-ataque, e a torcida sentiu que era hora
de voltar com sua força. O Flamengo recuou para segurar o empate, e os
dez minutos finais foram de roer os dedos para os dois lados. O
Brocador acertou voleio que Weverton salvou. Em seguida, perdeu outra
chance, mas Paulinho pegou o rebote, fez jogada sensacional em cima de
Deivid, e deixou Elias na cara do gol para fazer 1 a 0. O resultado já
valia o título, mas faltava o gol de Hernane. E Luiz Antonio deixou o
Brocador em condições de cumprir sua promessa e fazer um gol na decisão.
Na comemoração, fez sinal com as mãos, indicando que a decisão acabara.
E que as comemorações começavam.
por
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